sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Filme sobre Chico Xavier busca os não espíritas

26/02/2010 - 08h01

ANA PAULA SOUSA
da Folha de S.Paulo

Os produtores de "Chico Xavier" repetem, feito mantra, que não fizeram um filme espírita. "Tomei cuidado para que não fosse doutrinário", diz o diretor Daniel Filho. "O filme, antes de qualquer denominação que possa segmentá-lo, é uma cinebiografia de uma das personalidades mais conhecidas e queridas dos brasileiros. Foi feito para ser visto por todos que gostam de uma belíssima história de vida", emenda Carlos Eduardo Rodrigues, diretor da GloboFilmes. Daniel Filho diz, inclusive, que buscou colocar no roteiro todas as perguntas que ele próprio, não espírita, faz a si.

Mas, intenções à parte, "Chico Xavier", construído sob uma atmosfera de fé e marcado pela adesão emocional ao personagem, é um filme que requer, do espectador, um pacto que passa pela crença. Das cartas enviadas pelos desencarnados -- a palavra morte não é utilizada -- às aparições do espírito do médico Bezerra de Menezes são muitas as cenas retocadas pelo sobrenatural.

Os fios da história são puxados a partir da entrevista que Xavier, morto em 2002, aos 92 anos, concedeu ao programa "Pinga Fogo", da TV Tupi. O vaivém no tempo abarca três fases: infância (Matheus Costa), início da vida adulta (Ângelo Antônio) e maturidade (Nelson Xavier).

Esse projeto era acalentado desde 2004, quando o distribuidor Bruno Wainer comprou os direitos da biografia "As Vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior. Conseguiu, rapidamente, a adesão da GloboFilmes e da Sony. Mas faltava ao filme uma alma. Ou duas: roteiro e diretor. "Por divergências de visão, não chegávamos a um acordo sobre o diretor", conta Wainer. Nome vai, nome vem, chegou-se a Daniel Filho, até então apenas produtor. Com essa solução teve início outro problema: o roteiro. Foram tantas as versões que até um thriller surgiu.

"Tentei fazer com que tivesse o tom do livro. O filme tem o ponto de vista do Chico, quando ele conta o que apenas ele via, ouvia e sentia", diz Filho. É esse ponto de vista que, esperam os produtores, pode garantir ao filme um público mais amplo. "O filme do padre Marcelo ["Maria, Mãe do Filho de Deus"] tinha um aspecto doutrinário. "Chico" não tem", compara Braga, da Sony.

O interesse da distribuidora hollywoodiana no projeto é, digamos, anterior ao próprio projeto. "Os livros religiosos são tão bem vendidos que sempre me perguntei por que não viravam filme."

A prova de que esse filão adormecido tinha potencial veio com "Bezerra de Menezes" que, lançado sem alarde, fez quase 500 mil espectadores. Mas será que quem rejeita o espiritismo verá "Chico Xavier"? "Não sei", responde Braga. O executivo assinala, no entanto, que filmes "sobrenaturais" costumam fazer sucesso no Brasil. "Filmes como "Ghost" e "O Sexto Sentido" fizeram especial sucesso aqui."

Atrás do público que, mais do que ao cinema, costuma ir à barraquinha do camelô, o filme não só terá sessões especiais em Uberaba (MG), onde fica o museu Chico Xavier, e Pedro Leopoldo (MG) sua cidade natal, como aproveitará as frestas abertas pelo centenário do personagem. Só a GloboNews tem quatro programas sobre Xavier previstos para março. É o mais famoso médium brasileiro chegando à era da "convergência".

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Uma pérola no centenário de Chico Xavier

Ideias fracas precisam de um bom suporte para serem mantidas, e para serem aceitas por outras ideias fracas. É a chamada falsidade ideológica que a internet multiplicou ao extremo, obrigando-nos a sermos mais cautelosos com o que lemos.

Mas essa ultrapassou todos os limites da coragem: a simpatia para emagrecer de Chico Xavier. O divulgador, sem tanta coragem assim, assina PPM. A necessidade deve ser muito grande para se servir de um artifício tão pouco ético. Ou então é pura ironia, e então o resultado está aí. Frases, correntes e poemas atribuídos a Chico, quando ele nada mais fez do que servir de instrumentos às nobres entidades do mundo espiritual.

A simpatia para emagrecer estava disponível aos clientes de um restaurante da zona sul de São Paulo. Chama a atenção a frase: "não faça regime pois a simpatia é infalível". E uma orientação bizarra: "tire o número de cópias referente aos quilos que deseja perder".

Já vemos que nesse centenário nosso querido Chico não vai ter paz. Que pelo menos o invoquemos pelo grande espírito que ele é, e não pela pequenez que nós insistimos em ser...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O olhar é do paraíso, mas vê o inferno




"Um olhar do paraíso" foi bastante divulgado pela mídia espírita desde o final da produção, há meses atrás. O título original tem mais a ver com o filme: restos angelicais, porque, como se sabe, Hollywood convive melhor com mortes, tragédias e assassinos seriais. É o caso desse filme. Um psicopata mata Susie Salmon, de 14 anos, com requinte. A partir daí, ela, do mundo espiritual, prende-se às situações e interfere nos acontecimentos até que a situação esteja resolvida. Um clichê que tem se repetido em todos os filmes e séries que envolvem espíritos. Desde "O Sexto Sentido", os mortos não têm mais sossego. Sempre têm alguma coisa pra resolver, e por isso não podem ir embora.

O filme é um suspense, e só pode ser apreciado dentro desse gênero. Não se destaca, mas acrescenta o elemento espiritual de uma forma até interessante. A menina Susie se encontra em uma região do mundo espiritual que não é boa nem ruim, mas que se modifica enquanto ela experimenta a alegria ou a tristeza com o que acontece com sua família. Imagens bonitas e às vezes exageradas, que não chegam a nos envolver.

O que envolve mesmo são as cenas de suspense. Arte é percepção, e a percepção que se tem dessas cenas, que envolvem a perturbação espiritual de Susie, é muito ruim. Por isso, quem espera sair do filme melhor, por ser um filme sobre os espíritos, não se engane. Vai sair pior.